sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ergonomia na ZONA RURAL

O que é Ergonomia?
Ergonomia (do Grego: Ergon = trabalho + nomos = normas, regras, leis) é o estudo da adaptação do trabalho às características dos indivíduos, de modo a lhes proporcionar um máximo de conforto, segurança e bom desempenho de suas atividades no trabalho.

A definição oficial de Ergonomia é a seguinte:
“A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e espaço de trabalho. Seu objetivo é elaborar, mediante a contribuição de diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de aplicação, deve resultar numa melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos e dos ambientes de trabalho e de vida." (Congresso Internacional de Ergonomia, 1969).
O ergonomista estuda como as pessoas trabalham, a fim de melhorar o seu conforto, a sua saúde e a produtividade. Interfere no ambiente, na organização do trabalho, nas máquinas e na formação das pessoas. O fisioterapeuta, por sua vez, tem o mesmo objetivo, mas trabalha focado na pessoa.

Exemplos de riscos ergonômicos





Plantio




Ordenha







Colheita






Capina








Poda








Ferramentas


Selecionamos as seis imagens acima para ilustrar alguns riscos ergonômicos comuns nas atividades rotineiras dos agricultores brasileiros. As 4 primeiras têm a ver com problemas de postura, que afetam a coluna vertebral; a poda representa um importante grupo de conseqüências chamadas de Lesões por Esforços Repetitivos - LER; e a última, mostra como a indústria pode colaborar com a Ergonomia, produzindo ferramentas manuais com cabos ergonômicos, que diluem o esforço por toda a palma da mão e faz com que o punho trabalhe reto: o rendimento do trabalho é maior e o cansaço é menor. Infelizmente a lista de riscos e danos é bem mais abrangente, como podemos verificar na Tabela abaixo:

RISCOS ERGONÔMICOS NA ZONA RURAL
Riscos - Exemplos
Postura incorreta - Plantio de arroz; capina
Transporte de cargas - Sacaria em armazéns
Ferramentas manuais - Oficina,tratos culturais,colheita
Posto de trabalho - Mobiliário e cond. ambientais

Postura Correta
Dentre os distúrbios dolorosos que afetam a humanidade, a dor lombar (lombalgia, dor nas costas ou dor na coluna) é a grande causadora de morbidade e incapacidade para o trabalho, só perdendo para a cefaléia ou dor de cabeça; e afeta mais os homens do que as mulheres.

Aos 30 anos de idade, inicia-se um processo de dessecação progressiva dos discos da coluna vertebral, que sofrem maior risco de rompimento e arrancamento, por perda de elasticidade e resistência. Hérnia de disco e "bico de papagaio" são doenças comuns da coluna lesada.

A postura no desenrolar de tarefas pesadas é a principal causa de problemas de coluna, mais precisamente na hora de levantar, transportar e depositar cargas, ocasião em que os trabalhadores mantêm as pernas retas e "dobram" a coluna vertebral.
Pode ocorrer também outro movimento perigoso, o giro do tronco, quando a carga for pega ou depositada mais para o lado e não necessariamente à sua frente.

Quanto maior o peso da carga, maior será a pressão sobre cada vértebra (vide figura ao lado) e cada disco. Quanto mais distante do corpo, maior será a pressão. Cargas que representam o equivalente a apenas 10% do peso do corpo, já causam problema à coluna.

A postura correta do indivíduo ao trabalhar com o computador doméstico (posição da coluna, das pernas, a altura dos olhos, etc.) está esquematizada na figura ao lado. Quando as pernas e os pés não estão bem apoiados, por exemplo, podem ocorrer câimbras após um certo tempo de operação. O encosto da poltrona, também deve ser curvo e ajustar-se às costas, sempre que possível.


Quanto à posição de trabalho em pé ou sentado, diz a Norma número 17 do Ministério do Trabalho - MTE que: "sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição."
O trabalho em pé favorece a incidência do alargamento das veias das pernas (varizes) e causa edemas dos tecidos dos pés e das pernas.

A penosidade da posição em pé pode ser agravada se o agricultor tiver ainda que manter posturas inadequadas dos braços (acima do ombro, p.ex., como na colheita do cacau mostrada na foto ao lado), inclinação ou torção do tronco (como na colheita da laranja) ou de outras partes do corpo.

Assim, sempre que a atividade agrícola o permitir, a alternância de posturas (em pé - sentado - em pé) deve ser sempre buscada, pois permite que os músculos recebam seus nutrientes e não fiquem fatigados.


Transporte manual de cargas
O transporte manual de cargas é uma das formas de trabalho mais antigas e comuns, sendo responsável por um grande número de lesões e acidentes do trabalho. Estas lesões, em sua grande maioria, afetam a coluna vertebral, mas também podem causar outros males como, por exemplo, a hérnia escrotal.

A figura ao lado mostra a técnica correta para o levantamento de cargas (caixa, barra, saco, etc.). O joelho deve ficar adiantado em ângulo de 90 graus. Braços esticados entre as pernas. Dorso plano. Queixo não dirigido para baixo. Pernas distanciadas entre si lateralmente. Carga próxima ao eixo vertical do corpo. Tronco em mínima flexão.

Na figura da direita, a técnica indicada para a movimentação lateral de carga (no caso, um barril) é a seguinte: posição dos pés em ângulo de 90 graus, para evitar a torção do tronco. No outro croqui, em que o modelo carrega uma caixa, o porte da carga é feito com os braços retos (esticados), de modo a obter menor tensão nos músculos dos mesmos.

A movimentação manual de cargas é cara, ineficaz (o rendimento útil para operações de levantamento é da ordem de 8 a 10%), penosa (provoca fadiga intensa) e causa inúmeros acidentes. Portanto, sempre que possível, deve ser evitada ou minimizada.



A mecanização das atividades pode ser feita com o emprego de: polias, transportadores de correia, talhas empilhadeiras, carrinhos de transporte, elevadores, guindastes, pontes-rolantes, etc. A foto à esquerda mostra uma pilha de sacas sendo içadas por meio de cabos acionados por guindaste (que não aparece).






É claro que o uso desses equipamentos representa um custo de investimento, razão porque devem ser adquiridos e empregados apenas quando forem constantemente utilizados. A figura da direita apresenta uma esteira rolante ou transportador de correia, muito usado no manuseio de sacas e outros materiais.

Recomendações gerais para o transporte manual de cargas:

• Evitar manejo de cargas não adequadas ao biótipo, à forma, tamanho e posição;
• Usar técnica adequada em função do tipo de carga;
• Procurar não se curvar; a coluna deve servir como suporte;
• Quando estiver com o peso, evite rir, espirrar ou tossir;
• Evitar movimentos de torção em torno do corpo;
• Manter a carga na posição mais próxima do eixo vertical do corpo;
• Procurar distribuir simetricamente a carga;
• Transportar a carga na posição ereta;
• Movimentar cargas por rolamento, sempre que possível;
• Posicionar os braços junto ao corpo;
• Usar sempre o peso do corpo, de forma a favorecer o manejo da carga;

Uso de ferramentas manuais
A Agropecuária, por suas características, é uma das maiores usuárias das ferramentas manuais, dentre todas as demais atividades profissionais. Além dessas ferramentas se constituírem numa das maiores causas de acidentes entre os agricultores (principalmente o facão), muitas vezes, a improvisação ou má qualidade de fabricação, contribuem para os riscos ergonômicos do seu emprego.

As ferramentas manuais devem estar adequadas ao agricultor, não somente ao trabalho. Aquelas que exigem a aplicação de esforço muscular excessivo (as que pesam entre 4 e 8 kg exigem muito dos músculos, se estão sujeitas à posição horizontal por mais de três minutos) e/ou posturas incômodas, podem ocasionar tensão na mão, braço e ombros, de forma acumulativa ou gradual.

Por outro lado, o desvio do punho em mais de 30 graus, afeta diretamente a quantidade de força transferida da mão para a ferramenta. Assim, o formato e a seleção apropriada das ferramentas manuais, são fundamentais para se evitar os Transtornos por Trauma Cumulativo (TTC), bem como para aumentar a produtividade, a qualidade e a eficiência dos trabalhadores rurais. Os cabos das ferramentas que aparecem na figura ao lado foram desenhados para evitar esse problema.

Por falar em cabos de ferramentas, os cabos de madeira envernizada, fornecem uma superfície de sustentação melhor do que os de metal ou plástico. Os cabos de borracha, podem se tornar pegajosos. Os cabos condutores de frio reduzem a temperatura da mão e aumentam o risco de lesões cumulativas. Caso seja necessário um agarre ou aperto mais firme, o cabo deverá ser redondo, de forma que a força possa ser distribuída numa superfície maior. As ferramentas que não se adaptam aos canhotos ou apresentam dificuldades para alternar as mãos, também criam problemas.
Para evitar o esgotamento gradual dos músculos, a chamada carga estática (sustentar uma ferramenta ou manter dada postura) não deve exceder 10% da capacidade da força muscular máxima do trabalhador. Já as cargas dinâmicas (ex.: operar um motosserra), que empregam grupos musculares maiores, não devem exceder 40% da capacidade máxima do indivíduo.

Posto de Trabalho
Toda atividade de trabalho está inserida numa dada área, num certo espaço. O ambiente físico ou posto de trabalho pode favorecer ou dificultar a execução do mesmo. Seus componentes podem ser fonte de insatisfação, desconforto, sofrimento e doenças ou proporcionar a sensação de conforto (Mascia & Sznelwar, 1996).
A Portaria número 3751 de 23/11/90 criou a Norma Regulamentadora NR-17 (Ergonomia) do Ministério do Trabalho - MTE, que obriga as empresas regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT a realizar a Análise Ergonômica das Condições de Trabalho e a adequar as condições de trabalho a proporcionar conforto e segurança nas tarefas e atividades realizadas nos postos e ambientes de trabalho.
A Análise Ergonômica de que trata a Norma, diz respeito a 4 frentes:
• Levantamento, transporte e descarga individual de materiais;
• Mobiliário do posto de trabalho;
• Condições ambientais de trabalho; e
• Organização do trabalho.

1 - Carga Manual
Sempre que possível, o levantamento, o transporte e a descarga manual de objetos pesados devem ser evitados.
Para saber mais sobre este assunto, consulte o item relativo a Transporte Manual de Cargas.

2 - Mobiliário
Todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem ser adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. Adequados à natureza do trabalho significa que os equipamentos devem facilitar a execução da tarefa específica. No uso das máquinas agrícolas, por exemplo, uma série de exigências ergonômicas deve ser respeitada.
Às vezes, uma simples cadeira ergonômica (como a da foto ao lado) pode fazer a diferença. A altura de uma bancada pode estar adequada a uma pessoa alta, mas não para outra, baixa. Produtos e postos de trabalho inadequados provocam tensões musculares, dores e fadiga. Ás vezes pode levar a lesões irreversíveis. Na maioria dos casos, os problemas podem ser evitados com a melhoria dos postos de trabalho e dos equipamentos em uso no trabalho (Guimarães, 1998).

3 - Ambientes de Trabalho
Todos sabem que a atividade agrícola, muitas vezes, está sujeita a raios e trovoadas. A abordagem ambiental sob a ótica da Ergonomia, é centrada no ser humano e abrange tanto o critério da saúde quanto os de conforto e desempenho.
Assim, com relação ao posto de trabalho, principalmente nos ambientes cobertos (residência, galpão, escritório, fábrica, armazém, silo, etc.), devem ser observados os cuidados construtivos e operativos necessários para propiciar ao trabalhador: conforto térmico, acústico, luminosidade, instalações sanitárias e locais para dessedentação e descanso.

4 - Organizações do Trabalho
A organização do trabalho define quem faz o que, como e em quanto tempo. É a divisão dos homens e das tarefas, principalmente nas empresas agropecuárias, vez que, quando o agricultor é o proprietário e trabalha a sua própria terra, é o dono do seu nariz e organiza o trabalho ao seu jeito, sem interferência da figura do patrão.
Na agricultura, como são menores as exigências de tempo (quando comparado com o trabalho nas cidades), os mais idosos conseguem permanecer na ativa, mesmo tendo atividade física geral bem mais intensa que na indústria.

Fonte:www.ufrrj.br
PUC-Rio
Aluno: Lucivaldo de Jesus Teixeira (SESI-CEFEM)

3 comentários:

  1. Professor Pacheco, está cada vez melhor o blog, fico grato, do senhor responder minhas dúvidas e de todos aqui do blog. Até a próxima.

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  2. Grande Lucivaldo!

    Ótimo trabalho de pesquisa, o seu trabalho sobre Ergonomia sob uma ótica rural me chamou a atenção, realmente como digo nas aulas, onde houver atividade laboral, há riscos para o trabalhador e você abordou um tema que poucos o fazem, a ergonomia nos trabalhos rurais e enriquecendo com fotos e explicações bem detalhadas. Parabéns!

    Como desafio, quero que seu próximo post seja um texto original. Escolha o tema, pesquise bastante, mas o texto que será colocado aqui, seja produzido por você.

    Forte abraço e sucesso.

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  3. Ok, Obrigado, pela sua atenção. A próxima postagem vou tentar fazer com as minhas proprias palavras.

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